quinta-feira, 7 de março de 2013

Malungos

Malungos

Gildo Alves Bezerra

Não somos mais o companheiro
Durante a desafortunada  viagem
Dos navios negreiros.

O momento é outro
Mas, precisamos nos sentir
Como malungos.
Os mares são outros
Mais a tormenta da exclusão social, da desigualdade,
Da injustiça continua.

O  tumbeiro do momento é o deus mercado
Fragmentando as identidades do indivíduo e da nação
Visando o controle da consciência coletiva.

O indivíduo sozinho pouco
Representa em termos de exigir mudanças sociais.
Perdem-se as esperanças e o entusiasmo para ações coletivas.*

O deus mercado
Desqualifica todo o processo
De agrupamento social
Com propósito transformador.

Temos que perceber quem é que deseja ser o timoneiro
Do navio tumbeiro
Do deus mercado.

Aos sem-história e identidade resta comprar
O indivíduo sem identidade é um perdido
Ele não formará fileiras
Não ameaça o status quo. *

Voltemos ao passado
Para sermos companheiros
Malungos
Em defesa da igualdade e
da justiça social.

Em um céu todo estrelado
De sonhos, de alegrias
A partir da construção coletiva
Da socialização da produção econômica , política, social etc.

* Ver-Cuti.

Mama África

Mama África
Chico César

Mama África
A minha mãe
É mãe solteira
E  tem que
Fazer mamadeira
Todo dia
Além de trabalhar
Como empacotadeira
Nas casas Bahia... (2x)

Mama África, tem
Tanto o que fazer
Além de cuidar neném
Além de fazer denguim
Filhinho tem que entender
Mama África vai e vem
Mas não se afasta de você...

Mama África
A minha mãe
É mãe solteira
E tem que fazer mamadeira
Todo dia
Além de trabalhar
Como empacotadeira
nas casas Bahia...

Quando mama  sai de casa
Seus filhos de olodunzam
Rola o maior jazz
Mama tem calo nos pés
Mama precisa de paz...

Mama não quer brincar mais
Filhinho dá um tempo
É tanto contratempo
O ritmo de vida de mama...

Mama África
a minha mãe
é mãe solteira
e tem que fazer
mamadeira 
todo dia
além de trababalhar como empacotadeira
nas casas Bahia...(2x)

é do Senegal
Ser negão, Senegal...

deve se legal
ser negão, Senegal...(2x)

mama África
a minha mãe
é mãe solteira
e tem que
fazer mamadeira
todo dia
além de trabalhar
como empacotadeira
nas casa Bahia...(2x)


Mama África
A minha mãe
Mama África
A minha mãe
Mama África...

A ousadia poética se revela na criação do verbo “olodunzar”, no verso “quando mama sai de casa/seus filhos se olodunzam/ rola o maior jazz”. Ora se Olodum vem Olorum, o Deus supremo entre os Iorubas (que mora em Orum, o além, o infinito), não podemos esquecer que, para o Brasil atual, Olodum é música de negro.  Nara Lima
Ver livro ”o negro em versos - uma antologia da poesia negra brasileira”